Há uns anos lembro-me do choque provocado pelo Maus de Art Spiegelman: o Holocausto em BD? Os judeus como ratos, os alemães como gatos, os polacos como porcos, os americanos não-judeus como cães? Não seria o cúmulo da inconveniência, do mau gosto, lidar dessa maneira com aquela horrível tragédia? E no entanto, ao ler Maus, havia para mim algo de hipnótico, de arrebatador na sua elementaridade poética, algo de primordial, algo de radicalmente respeitador.
No calor das discussões acabei a ler uma recensão de William Hamilton (New York Times Book Review, 7/12/1986) que remata a sua apreciação da leitura de Maus desta forma que eu acho sublime – talvez o mais sublime remate de todas as recensões literárias que até hoje li:
"I felt the shiver I remember feeling during one of Duke Ellington's jazz masses in San Francisco's Grace Cathedral when a dignifed old tap dancer began his part in the service on the solemn flagstones. The jazz mass was so unlikely to begin with – and when it came to include a tap dancer, anything seemed possible. It showed all present how any way anyone can find to express spiritual tragedy and triumph sincerely seems sacred".
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