Quando somos crianças o mundo faz sentido porque acabámos de descobri-lo. Quando somos crianças a realidade não é refractária aos nossos sonhos, e por isso povoamos a realidade de ursos falantes e de elefantes voadores que são mais bonzinhos e perfeitos do que os adultos. Quando somos crianças somos omnipotentes porque somos capazes de transitar do choro ao riso apenas com um carinho, com uma macacada ou até com umas cócegas. Quando somos crianças quem manda no nosso mundo somos nós, porque circunscrevemos o mundo ao espaço da nossa atenção e dos nossos refúgios; e rejeitamos eficazmente o resto, intimidando os adultos com as nossas birras e os nossos protestos. Permitimo-nos a crueldade porque não sabemos senão ser autênticos; permitimo-nos a impertinência porque sem ela seríamos insignificantes; somos caprichosos porque essa é a única força que nos resta num mundo que se rege pela força; somos ruidosos porque somos jovens mamíferos vulneráveis que reclamam protecção e alimento. Ao longe soamos como passarinhos que chilreiam pelas mesmas razões do que nós.
O novo Ashram minimalista
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