O novo Ashram minimalista

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Vamos a isto, Sr. Fernandes



Chamaram-me a atenção para as chicuelinas e verónicas argumentativas, de mescla com adjectivação roncante, com que um tal Sr. Fernandes sai em defesa da corrida taurina.
Brande lesto o pampilho, e mesmo antes de eu prestar atenção aos argumentos sou logo ferroado de "taberneiro", "provinciano", membro de uma "trupe de imbecis analfabetos". (ALI e AQUI)
Para minha infelicidade, parece que na cernelha participa também, com entusiasmo, um querido amigo de infância (vamos esperar que seja pseudónimo).
A ideia é a de que proibir a fiesta é atentar contra as liberdades, e o libérrimo plumitivo louva-se até num congénere castelhano, o façanhudo Camacho (só o nome intimida, com as suas evocações de outros tercios, os dos legionários – j'en passe).
Aqui vai uma simpática troca de opiniões:

"A liberdade, no caso, consiste em só ir à tourada quem quer – se exceptuarmos os toiros e os cavalos…" Comentário por O Jansenista

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"Da próxima vez que me apetecer comer rabo de touro à cordobesa vou perguntar antes ao touro se quer ir ao matadouro. Ele é capaz de dizer que não e lá vou ficar sem o jantar." Comentário por Carlos M. Fernandes

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"E eu que supunha que nos matadouros os bois tinham que ser primeiro atordoados, de forma a morrerem sem sofrimento. Mas se o Sr. Fernandes sabe que eles são picados, bandarilhados e estocados para depois serem esquartejados e ingeridos, compreendo que propenda para o vegetarianismo.
A questão é do sofrimento, não é a da morte – e portanto também não é a do abate.
Saberá o Sr. Fernandes que os animais humanos também morrem? (lamento ser eu a dar-lhe a notícia, caso não soubesse) A inevitabilidade dessa morte justifica a sujeição deles ao sofrimento? (de qualquer modo vão morrer, e a maior parte morre involuntariamente…).
Aqui tem, com ênfase e insistência: a questão é o sofrimento, não é a morte.
Agora confunda os argumentos à vontade. Antigamente chamava-se a isso “ignoratio elenchi”; vou deixá-lo à vontade para encontrar o equivalente moderno." Comentário por O Jansenista

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O Sr. Fernandes vai ter que se aguentar nesta faena. Vou voltar lá as vezes que forem necessárias até que ele se arrependa de meter-se com taberneiros provincianos de uma trupe de imbecis analfabetos que têm esta teimosia de sentirem compaixão pelo sofrimento, seja no animal humano seja nos outros animais que partilham connosco o planeta, que bebem a mesma água, que respiram o mesmo ar, que aqui nascem, aqui vivem e aqui morrem.

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