O novo Ashram minimalista

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Couto Viana e a não-homenagem nas Cortes



Salvo o devido respeito por opiniões contrárias, bem sintetizadas no blogue Da Literatura (AQUI), acho que, com a sua recusa de homenageá-lo, as Cortes acabaram por prestar a devida homenagem a Couto Viana.
Há uns tempos perguntavam na TV a um descendente de Vasco da Gama se ele gostaria de ver o antepassado imortalizado numa estátua, e ele prontamente respondeu que preferiria deixar passar mais uns séculos até que o gosto e a sobriedade voltassem a imperar entre os escultores.
Imagino Couto Viana, na sua fina ironia, no seu distanciamento de "Grand Seigneur", rir-se dessas parvoíces ciumentas que incendeiam a imaginação – e a ignorância – dos deputados. Estou a vê-lo a agradecer a glória de o terem posto a combater com os Viriatos, estou a ouvi-lo a confirmar que se tratara de um sonho frustrado, de uma ambição de juventude.
Por mim, aplaudo a sabedoria crepuscular que tolheu à malta das Cortes o topete de uma homenagem que seria falsa, hipócrita, postiça e emporcalhadora. Grunhidos da pocilga, não obrigado, mesmo que viessem em uníssono. A desproporção de estaturas é imensa, não consente confusões nem aproximações.
Em suma, duas coisas a memória de Couto Viana dispensa: louvaminhices abrileiras e uma estátua de João Cutileiro. Essas duas podem ficar desde já reservadas, e com mérito irrecusável, para aquele gajo do prémio Nobel.

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