Os opinion-makers portugueses tomam-se a sério, e aparentemente abafam na hipérbole a sua incapacidade tanto para a ironia como para o distanciamento histórico e crítico. Agora andam de cabeça perdida porque apanharam políticos e apaniguados em jogos de poder (jogos de poder que normalmente incluem o silenciamento, mais ou menos civilizado, mais ou menos dialéctico, de adversários).
Era suposto esses políticos e apaniguados nada fazerem? Prestarem-se a ser bombos de festa? Aturarem as indignidades de mercenários da comunicação social?
Não quero ser mal interpretado: a camarilha socialista é uma desgraça para o país, mas isso sabia-se perfeitamente antes de eles chegarem ao poder e mais ainda quando se lhes renovou o poder, e não carecia de provas, boas ou más, facto público e notório que era.
Nada disso justifica, pois, o farisaísmo de se condenar políticos e apaniguados por fazerem a única coisa que sabem fazer: jogos de poder.
Melhor: como teríamos nós políticos e apaniguados, se assim não fosse, se os não deixássemos cultivar a sua natureza?
Era como se lamentássemos a quebra demográfica, aplaudíssemos todos os esforços para contrariá-la, mas depois viéssemos, aos gritinhos púdicos, protestar a nossa indignação pela descoberta de que a expansão demográfica se faz com o incremento da actividade sexual! Aí se perguntaria: Queriam mais crianças como? De que outro modo?
Neste país de fariseus parece que acabámos de descobrir que políticos e apaniguados gostam de mandar e gostam de vencer adversários - mesmo quando se inibem de os mandar prender ou matar.
Imagino o que este país de fariseus fará e dirá quando, deitando por terra as suas vendas e as suas mentirinhas convencionais, tiver que reconhecer que, em países livres, não há verdadeira alternativa a esta forma suja, contaminada, degradante, de fazer política.
Imagino que este país de fariseus prefira então, como tantas vezes tem preferido no passado, o equivalente político da procriação sem sexo, uma forma não-contaminada de políticos e apaniguados muito puros e seráficos manterem as aparências, o torpor e as mentirinhas, a troco de uma sempre fácil renúncia à liberdade.
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