O novo Ashram minimalista

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Assessores e blogues – um casamento abençoado



Anda por aí um sururu com o facto de assessores do Governo, no seu tempo de serviço, dentro do "horário de expediente" (designação patusca...), terem andado a escrever em blogues sabujos, em exercícios salamalequeiros de mercenarismo doutrinário.
Pois eu tenho que aplaudir essa circunstância, que se me afigura não apenas justificável, como até eminentemente louvável.
Nada é mais prejudicial aos interesses da República do que o trabalho habitual desses assessores: devem-se-lhes não apenas legiões sobre legiões de abortos jurídicos, mas ainda o torrencial de favoritismo burocratizado que em Portugal dá pelo nome de "Administração Pública" (uma anedota já nos tempos em que Marcelo Caetano tentou glorificar esses boçais "pen-pushers" com uma teorização em torno da respectiva actividade).
De cada vez que me dizem que um assessor do Governo está a trabalhar nas tarefas que oficialmente lhe estão cometidas, benzo-me: já sei que todo o tipo de lixo legislativo e regulamentar há-de sair daquelas remontas de cabeças ebúrneas, todo o género de trapalhada, toda a inutilidade que só pode verdadeiramente nascer de uma genuína dedicação burocrática à "coisa pública". Deve ser por lapso que no léxico jurídico aparece a designação "portaria" em vez de "porcaria" (sem ofensa aos recos).
O zumbido e o ronco chafurdeiro em torno do monturo só verdadeiramente se interrompe com intervalos e distracções nessa incessante actividade coprofágica e copropoiética, razão suficiente para cada assessor dever receber, na tomada de posse, a colecção completa do Cruzadex e 50 puzzles de 5000 peças – podendo assegurar-se que os resultados seriam incomensuravelmente melhores do que são (e decerto menos agressivos ao olfacto).
Há por aí assessores dedicados a blogues? A tempo inteiro? Que maravilha! Todos os assessores de todos os governos, presentes ou futuros, deveriam dedicar-se em exclusivo a essas tarefas. Ao menos os blogues não são imperativos, não procuram interferir connosco sem justificações e com presunções de conhecimento, e deixar de lê-los não nos expõe a coimas – ou pior. Mais ainda, não deixam, do Estado Português, o rasto embaraçoso que designamos por Diário da República.
Ou serei eu que, mais uma vez, estou a ver mal a coisa?

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