Num velho alfarrábio empoeirado que comprei a pataco num vão de escada, de título pomposo Sexologia Forense e de bela capa lustrosa, leio que, entre as perversões sexuais catalogadas, há a violência utilizada na "refrega sexual" (já o nome diz quase tudo), tido por alguns peritos (de antanho, entenda-se) como um estimulante sexual.
Segue-se uma descrição em latim, por coincidência as instruções de um masoquista para que o seu parceiro homossexual o "estimule" através dessa violência. Mesmo sendo em latim, não ouso transcrever.
O caso é curioso porque, a páginas tantas do fólio, se classifica a violência sexual utilizada para "démarrage" como uma tara sexual (um atavismo de épocas em que Lombroso imperava, decerto); mas depois, num lampejo de presciência relativista, acrescenta-se que a tara poderia ter sido considerada, noutras longitudes e noutras eras, como uma mera "orientação carnal".
Não menos curioso, a expressão "orientação" assoma de novo a propósito da necrofilia, adornada de descrições arrepiantes – mesmo que de novo em latim (que teriam estes psicólogos forenses contra o uso do grego?).
Dentro da bela capa lustrosa acumulam-se, em suma, provas abundantes dos extremos de maldade e acrasia a que podem "orientar-se" os nossos impulsos básicos.
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Isso deixa-me preocupado, porque oiço erguerem-se de novo vozes clamando contra a discriminação de "orientações" em matéria sexual – parecendo talvez querer ocultar que é com base nessas discriminações que se soergueram, até hoje, todas as moralidades que procuraram resgatar-nos colectivamente dessas possibilidades tenebrosas.
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Invoca-se a Lei, como se a Lei não fosse serva de uma qualquer moral, mesmo que uma moralidade mínima. Que moral é essa? Como podemos defender a não-discriminação em função da orientação sexual e defender-nos da não-discriminação contra praticantes da bestialidade, contra sádicos, masoquistas, necrófilos e outros?
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Olho para a capa lustrosa da Sexologia Forense e penso que a "não-discriminação" é uma não menos lustrosa capa para uma argumentação perigosa. Perigosa porque nada mais fazemos com a nossa inteligência, e com o sentido de sobrevivência individual e colectiva que nela se estriba, do que discriminar. Até a não-discriminação tem que discriminar o que permite e não permite (e até o que exige) que seja discriminado.
Segue-se uma descrição em latim, por coincidência as instruções de um masoquista para que o seu parceiro homossexual o "estimule" através dessa violência. Mesmo sendo em latim, não ouso transcrever.
O caso é curioso porque, a páginas tantas do fólio, se classifica a violência sexual utilizada para "démarrage" como uma tara sexual (um atavismo de épocas em que Lombroso imperava, decerto); mas depois, num lampejo de presciência relativista, acrescenta-se que a tara poderia ter sido considerada, noutras longitudes e noutras eras, como uma mera "orientação carnal".
Não menos curioso, a expressão "orientação" assoma de novo a propósito da necrofilia, adornada de descrições arrepiantes – mesmo que de novo em latim (que teriam estes psicólogos forenses contra o uso do grego?).
Dentro da bela capa lustrosa acumulam-se, em suma, provas abundantes dos extremos de maldade e acrasia a que podem "orientar-se" os nossos impulsos básicos.
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Isso deixa-me preocupado, porque oiço erguerem-se de novo vozes clamando contra a discriminação de "orientações" em matéria sexual – parecendo talvez querer ocultar que é com base nessas discriminações que se soergueram, até hoje, todas as moralidades que procuraram resgatar-nos colectivamente dessas possibilidades tenebrosas.
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Invoca-se a Lei, como se a Lei não fosse serva de uma qualquer moral, mesmo que uma moralidade mínima. Que moral é essa? Como podemos defender a não-discriminação em função da orientação sexual e defender-nos da não-discriminação contra praticantes da bestialidade, contra sádicos, masoquistas, necrófilos e outros?
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Olho para a capa lustrosa da Sexologia Forense e penso que a "não-discriminação" é uma não menos lustrosa capa para uma argumentação perigosa. Perigosa porque nada mais fazemos com a nossa inteligência, e com o sentido de sobrevivência individual e colectiva que nela se estriba, do que discriminar. Até a não-discriminação tem que discriminar o que permite e não permite (e até o que exige) que seja discriminado.
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