ê-se na Bíblia, a propósito da reincarnação no Juízo Final, que mesmo que os vermes destruam o corpo, ainda assim veremos a Deus com a nossa carne (Job 19:26).
Sempre me foi dito que por isso é que se defendia a inviolabilidade postmortem do corpo e se proscrevia a cremação. Os cemitérios estariam repletos de crentes nessa reincarnação, nesse milagre de uma segunda vida efectiva, na integridade restituída ao corpo.
Vejo por isso com alguma apreensão que a Igreja venha agora defender , em nome da solidariedade, a universalização da doação postmortem dos órgãos.
Sem qualquer ambiguidade ou ironia, aqui declaro a minha absoluta convicção no dever de solidariedade que deve determinar a doação postmortem de órgãos; e mais declaro que, após muitos anos de dúvidas e hesitações, acho boa a ideia da «presunção de dador» estabelecida para todos nós.
Só não resisto a notar a ambiguidade e a ironia que se acoitam na posição da Igreja: como é? Vamos para a solidariedade ou ficamos pela literalidade da reincarnação? Rasga-se a cartilha moral ou rasga-se a Bíblia? Vamos reincarnar mutilados de órgãos?

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