Ontem, na TV, Lobo Antunes fez um esforço heróico para esboçar um sorriso.
Pareceu mesmo, por momentos
(Ó pá, Lobo Antunes, as vendas estão a ir pelo ralo, faz qualquer coisa!)
que ele ia ironizar consigo mesmo
(o ar nefelibata-dispéptico com um soupçon de tédio incurável pareceu vacilar)
mas acabou por triunfar o mesmo peso irremovível de queque caduco e brasonado das hortas de Benfica
(«sabe», «sabe» – e a muleta démarreuse já tempera o mais irritante «percebe», «percebe»)
(zzzzzzzzzzzzzzz, "eu comovo-me sempre que percebo que ninguém me compreende")
(zzzzzzzzzzzzzzz, "acho, sabe, que só me compreenderão daqui a uns séculos")
Mas o momento alto foi quando, conseguindo eu desviar os olhos de uma figa adolescente que lhe pendia da barbela
(Ó pá, Lobo Antunes, tenta captar os leitores do Paulo Coelho – imaginamos o editor, todo engomado, a sussurrar-lhe)
ele disse, nonchalant, que durante muitos anos teve dificuldade de descer à terra, e usou uma imagem obscura (Ó pá…) de uns flutuadores de hidroavião.
Sabe, Lobo Antunes, dificuldade de descer, e durante tanto tempo, isso não será antes coisa de zepelim?
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