O novo Ashram minimalista

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Entre Bolaño e Bridget Jones

Nos poucos momentos livres desta época frenética tenho tentado avançar nos Detectives Selvagens, de Bolaño.
Admito ser surpreendido mais lá para a frente, ou quando chegar ao magnum opus, o 2666.
Mas por enquanto a desilusão tem sido quase total.
É verdade que o tom se afasta claramente daquele estilo realista / mágico / miserabilista / mariachi / tapioca que tinha feito a glória da "latino literature", uma coisa tão fiel à própria realidade latino-americana como o foram, outrora, os meneios de Carmen Miranda em relação à realidade "brasileña".
Mas não sei se houve verdadeiro progresso.
No meio de muita alusão literária – ao nível do mais pedante name-dropping, refira-se – o romance cai no cliché mais previsível e ridículo. Uma alusão nebulosa à realidade, divagante, perenemente desfocada e errática, contrastando singularmente com uma precisão hiper-realista na descrição minuciosa, clínica, lúcida, obsessiva, do acto sexual, entre panegíricos à humilhação feminina e à promiscuidade do "macho pós-moderno" - eis no que se transforma um pretenso romance.
Farto de tableaux de chasse do baixo-ventre ando eu.
Vou avançar mais uns dias, mas se isto não melhorar abandono este rol grotesco de proezas de coelhinhos com cio. Talvez empreenda ler, no mesmo género, o Diário de Bridget Jones – ao menos dizem-me que cultiva, no assunto, alguma ironia e humor.

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