Tive há dias uma discussão com uns amigos brasileiros sobre o ingresso de Amália no Panteão – tentando eu desmentir, com a veemência das minhas convicções elitistas, que o gesto tenha traduzido uma visão democratizada, ou democratizante, da arte. Na essência, a minha argumentação «highbrow» foi a de que não há democratização possível do talento artístico, e de que não é com o gosto popular que se alcança a força civilizadora da arte, da urbanidade, da ética.
Hoje diz-se que Amália era popular, mas foi ela mesmo que assumiu o risco de avançar para os poemas do nosso cânone literário – precisamente no momento em que o gosto popular se comprazia com Artur Garcia e o Conjunto António Mafra. Que algum do gosto popular tenha subido até ela não desmente o facto de ela não ter tido que fazer concessões (embora no final tenha feito algumas – ou até muitas).
Não me lembrei na altura de usar em meu apoio um célebre poema de WB Yeats (To a Wealthy Man Who Promised a Second Subscription to the Dublin Municipal Gallery…) que resume admiravelmente essa visão elitista do efeito civilizador da arte. Uso-o agora:
Hoje diz-se que Amália era popular, mas foi ela mesmo que assumiu o risco de avançar para os poemas do nosso cânone literário – precisamente no momento em que o gosto popular se comprazia com Artur Garcia e o Conjunto António Mafra. Que algum do gosto popular tenha subido até ela não desmente o facto de ela não ter tido que fazer concessões (embora no final tenha feito algumas – ou até muitas).
Não me lembrei na altura de usar em meu apoio um célebre poema de WB Yeats (To a Wealthy Man Who Promised a Second Subscription to the Dublin Municipal Gallery…) que resume admiravelmente essa visão elitista do efeito civilizador da arte. Uso-o agora:
And Guidobaldo, when he made
That grammar school of courtesies
Where wit and beauty learned their trade
Upon Urbino's windy hill,
Had sent no runners to and fro
That he might learn the shepherds' will
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