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Tudo o que é bem-pensante (leia-se, os tachistas federalistas) veio criticar o obscurantismo do zé-povinho, ironizando até. O argumento é o de que não há alternativa para o Euro.
Conheço bem esse argumento da ausência de alternativa – o mesmo argumento que tornava uma fatalidade obedecermos aos «ventos da história», ainda quando ingenuamente, e teimosamente, perguntávamos quem eram os oráculos que determinavam a direcção desses ventos. É o argumento dos negreiros, que andaram séculos a insistir na ausência de alternativa ao esclavagismo.
Andamos sempre um pouco atordoados com a nossa circunstância, sempre um pouco avassalados com a inércia dos nossos hábitos, e a imaginação contrafactual (do que pode ser e não é, do que deve ser e não é) representa um grande esforço, um esforço que a própria falta de imaginação representa como desproporcionado e inglório.
Os eurólatras, tal como os negreiros de outrora, exploram habilmente esse atordoamento, e sobressaltam-se ao mínimo indício de inquietação alheia. Eles que se tranquilizem: ainda não é desta que o que pode ser e que o que deve ser triunfará do sentimento agrilhoado da inevitabilidade.
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