O novo Ashram minimalista

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O que importa é o sofrimento, a morte é um abraço do Criador

O tema da eutanásia, lançado pela Consoror Charlotte, mereceu do Ashram este comunicado tardio e sonolento:

A. A eutanásia não é o ponto, mas sim a forma como lançamos um «pallium», uma «capa» aos desabrigados pela condição primária do sofrimento.
B. Há que distinguir cuidados paliativos (que em princípio não se restringem ao paciente e que, quanto a este, não procuram diminuir o sofrimento provocando ou consentindo a morte) de:
B1. Eutanásia, que é a acção ou omissão (eutanásia activa ou passiva) de provocar a morte ao paciente. Nos cuidados paliativos não se insere, ao menos formalmente, o recurso à morte.
B2. Eutanásia passiva, que é a omissão de tratamentos necessários, razoáveis e proporcionados (não-fúteis e não-degradantes). Nos cuidados paliativos admite-se a omissão de tratamentos violentos, invasivos, degradantes.
B3. A alegação ou diagnóstico de futilidade terapêutica, pois se ela é mero sinónimo de excessiva onerosidade (excesso de custo de oportunidade), a decisão deixa de ser directamente «paliativa», para resultar, explicita ou implicitamente, de uma ponderação de bens que não dá prioridade àquele paciente cuja terapêutica é pura e simplesmente preterida.
B4. Suicídio assistido, o fornecimento ao paciente de meios para ele próprio colocar um termo ao sofrimento através da morte – porque novamente se presume que isto extravasa de um mero propósito «paliativo».
B5. A eutanásia indirecta ou eventual, na qual não há a vontade de provocar a morte e apenas se intensifica o risco de que ela aconteça, por exemplo através do reforço da sedação com certas substâncias (o que ficaria moralmente relevado de acordo com o princípio do «duplo efeito»).
C. Os cuidados paliativos seriam quando muito compatíveis com a «ortotanásia», uma morte não provocada ou consentida, mas alcançada com a minimização do sofrimento físico e psicológico.
D. Mas pode o respeito pela autonomia do paciente compatibilizar-se com a recusa de eutanásia – se por exemplo a ponderação do sofrimento psíquico entrar verdadeiramente na equação? Prolongar esse sofrimento psíquico não é também uma forma de «distanásia», de morte escusadamente dolorosa?
Não temos respostas aqui. Apenas dúvidas eloquentes.

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