Msgr. Williamson é pessoa inteiramente estimável: dizem-me que pertence a uma confraria lefebvrista, que como todos sabemos é um daqueles fenómenos de cíclico recrudescimento de fervor religioso em tempos de impiedade. Simpatizo com a ideia, até porque no fundo é uma nova edição do jansenismo – ainda que uma reedição algo acéfala (onde andas, Blaise Pascal dos lefebvristas?).
Sua Reverendíssima Msgr. Williamson é portanto arauto de uma forma intensa de espiritualidade, daquelas que se comovem particularmente com a sorte da condição humana, com a condição decaída do mais pobre e abandonado dos nossos irmãos, com a fome e sede de justiça que, neste vale de lágrimas, não se converte numa bem-aventurança sem a solicitude e sem a caridade.
Sua Reverendíssima Msgr. Williamson é portanto arauto de uma forma intensa de espiritualidade, daquelas que se comovem particularmente com a sorte da condição humana, com a condição decaída do mais pobre e abandonado dos nossos irmãos, com a fome e sede de justiça que, neste vale de lágrimas, não se converte numa bem-aventurança sem a solicitude e sem a caridade.
Imagino Sua Reverendíssima banhado em lágrimas lamentando as vítimas da fome, da opressão, da guerra, e até daquelas calamidades ditas «naturais» que levam o timbre da Providência; e vejo-o, os olhos rasos de lágrimas e a voz embargada de compaixão, a ferver de indignação com a sorte de uma só vítima judia – criança, mulher, homem – naqueles anos negros das décadas de 30 e 40.
Nem podia ser de outro modo: o Vaticano nem sempre sabe, ou pode saber, o que se passa com o baixo-ventre do clero – e de vez em quando lá se descobre um pastor pedófilo, e aberrações do género –; mas sabe perfeitamente o que se passa na cabeça dos seus mais altos representantes, da classe episcopal: responde por eles – ou então excomunga-os.
Por isso aquele indivíduo de olhar impiedoso que vinha falar friamente de 300 a 400 mil mortos como se fosse um fait-divers não pode ser a mesma pessoa, só pode ser um impostor: é alguém que quer denegrir um Bispo da Igreja fazendo-se passar por ele. Que esse impostor miserável escarneça de milhões de mortes fingindo que não acredita nessas mortes, ou que queira exonerar os esbirros duvidando de práticas que os próprios confessaram, já é mau; que em suprema exoneração dessa atrocidade use, com displicência sobranceira, o tal número de 300 ou 400 mil, isso é intolerável.
Aliás, os mandantes desse impostor instruíram-no deficientemente: porque uma cifra destas fica, mesmo assim, muito além dos valores que eles invocam para outros episódios que os afligem, como o do bombardeamento de Dresden, por exemplo (se bem que já adivinho que o títere negacionista era capaz de fazer a contabilidade de que cada vida em Dresden vale múltiplos das «outras»: afinal, em Dresden eram todos arianos…).
Como Sua Reverendíssima Msgr. Williamson já desmentiu o impostor, podemos dar o caso por encerrado, e concluir que o Governo da Argentina, caso quisesse expulsar esse jansenista dos tempos modernos, teria feito muito mal; mas como nem sequer chegou a expulsar o impostor que se fazia passar pelo Bispo (um evento bem menos comprovável, em todo o caso, do que as atrocidades que o impostor quis negar), lamentamos que o Governo da Argentina tenha perdido a oportunidade de fazer valer princípios básicos em vigor no Direito Internacional.
Prepara-se um grande churrasco no Inferno.
Nem podia ser de outro modo: o Vaticano nem sempre sabe, ou pode saber, o que se passa com o baixo-ventre do clero – e de vez em quando lá se descobre um pastor pedófilo, e aberrações do género –; mas sabe perfeitamente o que se passa na cabeça dos seus mais altos representantes, da classe episcopal: responde por eles – ou então excomunga-os.
Por isso aquele indivíduo de olhar impiedoso que vinha falar friamente de 300 a 400 mil mortos como se fosse um fait-divers não pode ser a mesma pessoa, só pode ser um impostor: é alguém que quer denegrir um Bispo da Igreja fazendo-se passar por ele. Que esse impostor miserável escarneça de milhões de mortes fingindo que não acredita nessas mortes, ou que queira exonerar os esbirros duvidando de práticas que os próprios confessaram, já é mau; que em suprema exoneração dessa atrocidade use, com displicência sobranceira, o tal número de 300 ou 400 mil, isso é intolerável.
Aliás, os mandantes desse impostor instruíram-no deficientemente: porque uma cifra destas fica, mesmo assim, muito além dos valores que eles invocam para outros episódios que os afligem, como o do bombardeamento de Dresden, por exemplo (se bem que já adivinho que o títere negacionista era capaz de fazer a contabilidade de que cada vida em Dresden vale múltiplos das «outras»: afinal, em Dresden eram todos arianos…).
Como Sua Reverendíssima Msgr. Williamson já desmentiu o impostor, podemos dar o caso por encerrado, e concluir que o Governo da Argentina, caso quisesse expulsar esse jansenista dos tempos modernos, teria feito muito mal; mas como nem sequer chegou a expulsar o impostor que se fazia passar pelo Bispo (um evento bem menos comprovável, em todo o caso, do que as atrocidades que o impostor quis negar), lamentamos que o Governo da Argentina tenha perdido a oportunidade de fazer valer princípios básicos em vigor no Direito Internacional.
Prepara-se um grande churrasco no Inferno.
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