O novo Ashram minimalista

domingo, 7 de dezembro de 2008

Mulheres-quotas

A uma opinião de Charlotte sobre a «Lei da Paridade», repliquei:
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No estado de alienação a que temos chegado, será facílimo preencher todo o tipo de quotas: não faltarão mulheres que, julgando-se empenhadas no assalto aos bastiões do androcentrismo e da opressão patriarcal, se deixarão ir nesse sórdido exercício de venalidade e de parasitismo que dá (sempre deu) pelo nome de «vida partidária».
Teremos mais comadrio aí onde o compadrio pontificava; o servilismo à liderança manifestar-se-á, porventura, com mais graciosidade; e talvez nas bancadas das Cortes se discuta menos futebol e mais tendências de moda. De resto, terá mudado apenas o sexo de algumas das moscas...
Não concordo, por outro lado, que seja necessário um interesse pela política para se alcançar a proficiência no métier – basta mercenarismo, arte de dissimulação, jogo de cintura, e uma habilidade mínima para relativizar o norte dos escrúpulos à brisa das conveniências.
Como há muito deixou de haver ideais (entre outros tantos empecilhos à conduta), a vida partidária tornou-se, mais transparentemente do que nunca, uma perspectiva interessante de emprego, e uma porta entreaberta para o tirocínio na rapina.
Pensando bem, ao fim de uma secular tradição de exclusão, afigura-se justo que algumas mulheres sejam agora autorizadas a jogar, também elas, o jogo da pilhagem em nome da soberania popular: a paridade não é um pretexto pior do que qualquer outro.
Interessa é que não haja ilusões – elas defenderão tanto os interesses femininos (entenda-se, das outras mulheres) como os figurões que lá têm andado têm defendido o interesse público (entenda-se, o daqueles que não pertencem à oligarquia política).
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