Andava eu atento a seguir uma troca de opiniões avisadas sobre o capitalismo (aparentemente encerrada AQUI), e meditava na velha máxima de que nada há de novo debaixo do Sol.
Lembrei-me das tiradas de Aristóteles contra o proto-capitalismo que ele designava por «crematística», por contraposição à «oikonomia», a velha forma de produção de subsistência de base rural, artesanal (Bonnard, A. (1957), Greek Civilization: From the Iliad to the Parthenon, London, Allen & Unwin, 102ss.; Vernant, J.-P. (1988), Myth and Society in Ancient Greece, New York, Zone Books, 17ss.).
Old money vs. new money, a história repete-se: os herdeiros da velha tradição de indolência aristocrática, Platão e Aristóteles pontificando entre eles, encrespavam-se contra os arrivistas cujo modo de afirmação era o poder do dinheiro – do dinheiro fresco, do dinheiro que cobria tudo de um preço, que tudo relativizava e vulnerabilizava (Glotz, G. (1929), The Greek City and Its Institutions, London, Kegan Paul, 311ss.)
Entre os apologistas da velha ordem e os combatentes da nova plutocracia emergiu a época mais brilhante – mas a mais frágil e efémera – da velha Atenas, uma explosão de criatividade que parece ter-se alimentado dessa turbulência dialéctica na qual se acoitavam já as sementes da sua destruição: porque a irreprimível liberdade que foi o motor dessa criatividade era também o livre curso de novos valores que, superando essa criatividade, a dispensariam e esgotariam. Não era possível ter-se uma das liberdades e não a outra – em termos modernos, não seria possível a liberdade sem o paradoxo da liberdade, e mesmo, retrospectivamente, não é de excluir que a criatividade estivesse a preparar-se num crescendo para o seu momento agonístico – o momento de devolução dos seus frutos àqueles que tinham sido explorados ou excluídos no correspondente processo de criação (Kitto, H.D.F. (1951), The Greeks, Harmondworth, Penguin, 166ss.).
Por alguma razão somos hoje todos herdeiros intelectuais dos sofistas, muito mais do que dos grandes filósofos autoritaristas que se afadigaram a denegri-los: a liberdade consumou-se numa devolução de «voz» ao elemento demótico.
Lembrei-me das tiradas de Aristóteles contra o proto-capitalismo que ele designava por «crematística», por contraposição à «oikonomia», a velha forma de produção de subsistência de base rural, artesanal (Bonnard, A. (1957), Greek Civilization: From the Iliad to the Parthenon, London, Allen & Unwin, 102ss.; Vernant, J.-P. (1988), Myth and Society in Ancient Greece, New York, Zone Books, 17ss.).
Old money vs. new money, a história repete-se: os herdeiros da velha tradição de indolência aristocrática, Platão e Aristóteles pontificando entre eles, encrespavam-se contra os arrivistas cujo modo de afirmação era o poder do dinheiro – do dinheiro fresco, do dinheiro que cobria tudo de um preço, que tudo relativizava e vulnerabilizava (Glotz, G. (1929), The Greek City and Its Institutions, London, Kegan Paul, 311ss.)
Entre os apologistas da velha ordem e os combatentes da nova plutocracia emergiu a época mais brilhante – mas a mais frágil e efémera – da velha Atenas, uma explosão de criatividade que parece ter-se alimentado dessa turbulência dialéctica na qual se acoitavam já as sementes da sua destruição: porque a irreprimível liberdade que foi o motor dessa criatividade era também o livre curso de novos valores que, superando essa criatividade, a dispensariam e esgotariam. Não era possível ter-se uma das liberdades e não a outra – em termos modernos, não seria possível a liberdade sem o paradoxo da liberdade, e mesmo, retrospectivamente, não é de excluir que a criatividade estivesse a preparar-se num crescendo para o seu momento agonístico – o momento de devolução dos seus frutos àqueles que tinham sido explorados ou excluídos no correspondente processo de criação (Kitto, H.D.F. (1951), The Greeks, Harmondworth, Penguin, 166ss.).
Por alguma razão somos hoje todos herdeiros intelectuais dos sofistas, muito mais do que dos grandes filósofos autoritaristas que se afadigaram a denegri-los: a liberdade consumou-se numa devolução de «voz» ao elemento demótico.
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