O novo Ashram minimalista

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Fraternidade e corrida

Há uns instantes via a CNN homenagear uma jovem em Filadélfia que tinha decidido juntar os sem-abrigo ao seu grupo de corrida. Comecei por achar frívolo, há decerto coisas muito mais importantes para os sem-abrigo, até achei cruel puxar-se pelo físico de pessoas abandonadas e doentes.
Mas depois lembrei-me de que a corrida é o grande nivelador, pensei que foi na corrida que tive as experiências mais fraternas com pessoas das mais diversas origens e dos mais diferentes estratos – todos irmanados naquele esforço e naquela descarga de endorfinas, cortando o vento e carregando o sol nas camisolas suadas.
O grande nivelador.
Um dos sem-abrigo dizia na CNN que, naqueles treinos diários pelas ruas de Filadélfia, se sentia finalmente a pertencer a algo.
Julgo que o compreendi: lembrei-me de um ex-toxicodependente que conheci nalgumas provas e que corria com sapatos muito largos e camisolas muito quentes, porque não tinha dinheiro para mais, mas que aparecia sempre com uma alegria contagiante – como se fosse impensável faltar àqueles momentos de fraternidade nos quais, julgo, procurava também fugir dele próprio.
A CNN homenageava a jovem de Filadélfia pelo seu heroísmo, e acabei por perceber a inteira justiça do reconhecimento: ela perseverou onde outros teriam desistido; ela percebeu o potencial do grande nivelador, e deu-lhe uma oportunidade para se consolidar, deu-lhe tempo.

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