Uma «quase-amiga» e fã de Sondheim ponderou as afirmações do Sr. Paulo Rangel sobre os «direitos dos animais», e eu vai daí observei:
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"Os animais têm direitos. Quanto a alguns, isso passou a ter-se por pacífico, ainda que há pouco tempo: os animais humanos. Quanto aos não-humanos, levará o seu tempo – o tempo que demorar a descobrir-se que os «direitos» não são uma sacralização, mas uma simples marca (contingente, reversível, mas significativa) de respeito por outros seres que partilham a sua existência connosco no planeta.
O argumento do Sr. Paulo Rangel não prova absolutamente nada. Se num incêndio salvamos um ser humano e sacrificamos um cão isso nada significa quanto à nossa vontade de reconhecermos direitos ao cão – pela elementar razão de que, num incêndio, também estabelecemos prioridades de salvamento entre os seres humanos, sem que isso signifique que os sacrificados, só porque não puderam ser salvos, não tinham por isso direitos.
Todos os dias nos nossos hospitais, com a máxima discrição, se desliga a máquina ligada a um doente terminal para permitir o salvamento de um outro doente com mais elevado QALY (Quality-Adjusted Life Years). Quer isso dizer que os doentes terminais não têm direitos? Não: apenas que os seus direitos podem ter que ceder – como quaisquer outros – em caso de colisão de direitos.
Que certos direitos dos não-humanos (mas não todos os seus direitos) devam ceder sistematicamente perante os direitos dos humanos não desmente, antes reforça, a noção de que têm direitos. Insisto, mais sistemática e incondicionalmente fazemos ceder, dia a dia, os direitos de seres humanos com baixo QALY perante os direitos de seres humanos com elevado QALY, e ninguém no seu perfeito juízo defenderá que se trata de uma violação dos direitos do homem.
É pena que o Sr. Paulo Rangel, na estreiteza dos seus horizontes, tenha precisado de fundamentar a sua proposição, de resto perfeitamente sensata, numa absurda alegação especista de «separação ontológica». Deve julgar que é uma alminha penada, liberta da sua condição animal."
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"Os animais têm direitos. Quanto a alguns, isso passou a ter-se por pacífico, ainda que há pouco tempo: os animais humanos. Quanto aos não-humanos, levará o seu tempo – o tempo que demorar a descobrir-se que os «direitos» não são uma sacralização, mas uma simples marca (contingente, reversível, mas significativa) de respeito por outros seres que partilham a sua existência connosco no planeta.
O argumento do Sr. Paulo Rangel não prova absolutamente nada. Se num incêndio salvamos um ser humano e sacrificamos um cão isso nada significa quanto à nossa vontade de reconhecermos direitos ao cão – pela elementar razão de que, num incêndio, também estabelecemos prioridades de salvamento entre os seres humanos, sem que isso signifique que os sacrificados, só porque não puderam ser salvos, não tinham por isso direitos.
Todos os dias nos nossos hospitais, com a máxima discrição, se desliga a máquina ligada a um doente terminal para permitir o salvamento de um outro doente com mais elevado QALY (Quality-Adjusted Life Years). Quer isso dizer que os doentes terminais não têm direitos? Não: apenas que os seus direitos podem ter que ceder – como quaisquer outros – em caso de colisão de direitos.
Que certos direitos dos não-humanos (mas não todos os seus direitos) devam ceder sistematicamente perante os direitos dos humanos não desmente, antes reforça, a noção de que têm direitos. Insisto, mais sistemática e incondicionalmente fazemos ceder, dia a dia, os direitos de seres humanos com baixo QALY perante os direitos de seres humanos com elevado QALY, e ninguém no seu perfeito juízo defenderá que se trata de uma violação dos direitos do homem.
É pena que o Sr. Paulo Rangel, na estreiteza dos seus horizontes, tenha precisado de fundamentar a sua proposição, de resto perfeitamente sensata, numa absurda alegação especista de «separação ontológica». Deve julgar que é uma alminha penada, liberta da sua condição animal."
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