Todos os anos nos brindam com uma colorida patranha que sugere que as escolas privadas «esmagaram» o ensino oficial em termos de qualidade de ensino e de capacidade dos alunos.
Apresentam-nos médias, procurando explorar descaradamente a nossa ignorância matemática / estatística: com efeito, de que vale uma média desacompanhada do desvio-padrão?
Mais especificamente, as médias, tal como elas são apuradas e apresentadas, reflectem apenas o «cream skimming», que consiste no facto de, nas privadas, os piores alunos serem pura e simplesmente convidados a sair, bastando isso para se compor qualquer média.
Apresentam-nos médias, procurando explorar descaradamente a nossa ignorância matemática / estatística: com efeito, de que vale uma média desacompanhada do desvio-padrão?
Mais especificamente, as médias, tal como elas são apuradas e apresentadas, reflectem apenas o «cream skimming», que consiste no facto de, nas privadas, os piores alunos serem pura e simplesmente convidados a sair, bastando isso para se compor qualquer média.
As escolas públicas têm esse «handicap» estatístico de não poderem rejeitar os cadastrados escolares, e por isso ficarem defrontadas com médias que reflectem esses extremos e ocultam (na falta do tal desvio-padrão) os resultados melhores. O serviço público, digamo-lo mais cruamente, não pode ficar com a carne e rejeitar os ossos, como o fazem tantos colégios onde, não fora o farisaísmo, se esperaria que reinasse a misericórdia para com os alunos menos dotados...
Para mitigar o embuste estatístico, deveria ao menos fornecer-se uma informação complementar: por exemplo, uma comparação, em termos de sucesso escolar subsequente, dos vinte melhores alunos de cada escola privada com os vinte melhores alunos de cada escola pública com uma base demográfica similar (por exemplo, as escolas de Lisboa). O resultado iria ser bem diferente, posso afiançá-lo com conhecimento de causa.
Resta saber, por fim, se interessa a alguém desmontar esta manipulação de dados: é que parece que a glorificação do ensino privado (aos níveis primário e secundário), além de servir legítimos interesses comerciais nesse nicho de mercado, corresponde também a um velhíssimo desígnio das velhas e imobilistas sociedades europeias, a de procurarem uma rápida, senão mesmo precoce, segregação de classes e castas através do poder económico, da formação de «old boy networks», da estigmatização das pessoas mais pobres e da respectiva descendência.
Sirva-nos de consolo que aqui em Portugal somos uns meros aprendizes nessas matérias, ainda que procuremos, com muito zelo, recuperar rapidamente a distância. Ainda esta semana, por coincidência, li uma espectacular denúncia do «establishment educativo» britânico, AQUI.
Para mitigar o embuste estatístico, deveria ao menos fornecer-se uma informação complementar: por exemplo, uma comparação, em termos de sucesso escolar subsequente, dos vinte melhores alunos de cada escola privada com os vinte melhores alunos de cada escola pública com uma base demográfica similar (por exemplo, as escolas de Lisboa). O resultado iria ser bem diferente, posso afiançá-lo com conhecimento de causa.
Resta saber, por fim, se interessa a alguém desmontar esta manipulação de dados: é que parece que a glorificação do ensino privado (aos níveis primário e secundário), além de servir legítimos interesses comerciais nesse nicho de mercado, corresponde também a um velhíssimo desígnio das velhas e imobilistas sociedades europeias, a de procurarem uma rápida, senão mesmo precoce, segregação de classes e castas através do poder económico, da formação de «old boy networks», da estigmatização das pessoas mais pobres e da respectiva descendência.
Sirva-nos de consolo que aqui em Portugal somos uns meros aprendizes nessas matérias, ainda que procuremos, com muito zelo, recuperar rapidamente a distância. Ainda esta semana, por coincidência, li uma espectacular denúncia do «establishment educativo» britânico, AQUI.
2 comentários:
É falso que nos colégios os alunos com piores notas sejam convidados a sair. Toda a vida estudei no ensino privado - e em dois colégios diferentes, ambos bem classificados no ranking - e nunca sequer ouvi dizer que isso se passasse ou vi algum colega meu ser expulso ou "sair por convite" por ter notas abaixo da média. Aliás, todos os casos de expulsão que conheci - e não foram mais que dois - foram de alunos cujo comportamento há muito justificava que fossem expulsos. O retrato que vindo a ser passado nos média sobre os “colégios privados” escolas dos “privilegiados” e “meninos ricos”é, isso sim uma “colorida patranha”. E conduz ao absurdo, por vezes ouvido, que os alunos pagam pelas suas notas, como se houvesse um sistema diferenciado de propinas dependente do aproveitamento escolar.
Os colégios são só escolas privadas. Mais vale discutir o que esta bem nos colégios do que discutir o que está mal no ensino publico – e aplicar o que for proveitoso. A resposta simples de que os colégios têm melhor aproveitamento como resultado do «cream skimming» é, pura e simplesmente , falsa.
Como estudante, estive cinco anos no ensino oficial e catorze no ensino privado.
Sei perfeitamente do que falo.
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