O novo Ashram minimalista

domingo, 12 de outubro de 2008

Encerramento - num tom confessional

Nestes dias em que tenho que atravessar leituras muito difíceis e áridas, o meu pensamento interrompe-se constantemente em impulsos centrífugos.
Hoje alternava entre intermitências alegres (as gargalhadas de uma criança, eu a trautear strawberry fields forever) e rebates sombrios (a lembrança de todas as sacanices a que já tive que sobreviver na idade adulta).
Depois apeteceu-me um chá de tília carregado de açúcar mas descobri que não havia açúcar e contentei-me com um copo de água. Lembrei-me de novo das crapulices de que está atapetada a minha procissão de memórias, e meditei no facto, não totalmente estranho, de me referir agora a elas sem emoção, sem amargura, sem sequer a alegria feroz com que rememorava, há poucos anos ainda, a minha paciente e laboriosa vingança de todas elas.
Desperdício de energia, foi o que foi, perda de tempo, perda de fé: pergunto-me frequentemente por que razão tive eu que ser confrontado com a perda da grandiosa ilusão infantil que faz do mundo um lugar decente; e por que razão tive eu de ver o meu caminho atravessado por tanta gente imbecil e desonesta.
Um longo dia chega ao fim.
Agito-me nestas revisões de turbulências, talvez para contrastá-las com a serenidade presente, talvez para me vingar de leituras rebarbativas, talvez para me indignar com a minha própria indiferença.

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