O novo Ashram minimalista

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

As assoalhadas, Baptista Bastos e o fim de um certo abrilismo faustiano

Pouco me impressiona este fait-divers das casas atribuídas, em situação de favor, à remonta abrileira que campeou aqui neste apagado e vil terreiro. Aliás, de certo modo era um segredo de Polichinelo, todos sabiam e ninguém falava – os que costumam falar não falavam, et pour cause, como bem lembra uma crónica fulminante de Mário Crespo no Jornal de Notícias.
O que acho importante é que há, para lá da vindicta privada, a queda de alguns moralões de pés de barro, o mais proeminente entre eles o jornalista Baptista Bastos. Está liquidado, com a rapidez e contundência com que ele próprio despachou – e bem – muitos figurões da praça, alguns dos quais lhe retribuem agora, a frio, comme il faut.
Continuará decerto a fazer-se ouvir, nasceu e morrerá combativo, e a sua voz fará falta para continuar algumas varredelas em ex-correligionários, alguns deles os ornamentos mais grotescos e sórdidos do regime.
E no entanto há uma dimensão que ficou irremediavelmente comprometida, e que era a chave do sucesso de uma certa visão «abrilista» das coisas: a convicção das «mãos limpas», o pendor justicialista, o «moral high ground», tudo esboroado de uma penada. Em contrapartida, como também sublinhava Mário Crespo na sua crónica, há silêncios e omissões destes últimos 30 anos que se tornaram, de súbito, profundamente eloquentes – tudo ao preço faustiano de três ou quatro assoalhadas.

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