O novo Ashram minimalista

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A Mouraria em Londres

A um comentário de Charlotte sobre a paulatina insinuação de tribunais islâmicos nas ilhas britânicas, acrescentei:
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O problema é demasiado complexo. Se as comunidades imigrantes são encurraladas em guetos por iniciativa daqueles que se arrogam representá-las, é muito difícil a um Estado moderno e tolerante impor um quadro valorativo e decisório capaz de resgatar aqueles que querem sair do gueto e apostam na sua integração.
Lamenta-se duplamente as vítimas: primeiro porque ficam reféns de um fanatismo clerical que se alimenta do preconceito, da opressão e do ódio; e depois porque vêm passar-lhes mesmo ao lado um caudal de oportunidades civilizacionais, agudizando certamente a sua frustração.
O problema pode ser relativizado se lembrarmos que a última instância adjudicativa é, obviamente, a ordem jurídica do Estado que os acolhe, e que por isso bastará a algum desses imigrantes renunciar à jurisdição voluntária para beneficiar da protecção total do sistema vigente nesse Estado. O problema está em que se imagina o grau de intimidação e violência, e até de ignorância, que habitualmente cava um fosso intransponível em torno do gueto.
Há uma ironia em tudo isto, que não escapa a quem tenha perspectiva histórica: enquanto os imigrantes muçulmanos se sujeitarem a viver sob a dupla jurisdição dos seus bantustões eles não constituirão verdadeira ameaça à cultura que os acolhe. Só o seriam, como na Roma do século V AD, se tivessem abandonado a etnia e tivessem abraçado, evidentemente com reserva mental, a cidadania e os costumes. Assim, a segregação torna-os mais assustadores mas menos perigosos.
O velho ditado aconselhava "Em Roma, sê romano", mas aparentemente a sabedoria da cominação perdeu-se para estes novos bárbaros – sejamos justos, para aqueles que, silenciando-os, falam em nome deles.
Dito isto, só tenho pena das crianças e de algumas mulheres que ficam do lado errado deste auto-imposto apartheid jurídico.
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