O nome que nos é dado, em sociedades de reduzida mobilidade social, investe-nos num estatuto de privilégio ou de privação que nos engaiola – e o faz com um peso colectivo tão determinante que não hesitamos em atribuir ao destino aquilo que não passa de puro corolário da convenção social.
Essas sociedades policiam, não raro ferozmente, a criação e a perpetuação desses papéis e estatutos – e só não o fazem mais porque contam com a interiorização espontânea dos valores que representam, o auto-policiamento por parte daqueles que vêm em tudo isso uma fatalidade, um sentido, um interesse até.
Mais ainda, essas sociedades não toleram surpresas no jogo, e por isso reclamam de cada um o aval do seu pedigree, para saberem quem privilegiar e quem humilhar e excluir, independentemente daquilo que as pessoas façam. Todos nascemos com a herança dessa marca, e muitos com esse estigma.
Por isso essas sociedades desconfiam do anonimato.
Não importa se o «Nuno» tem nobreza de carácter, se tem talento, se tem ambições: interessa é saber se nasceu para servir ou para ser servido, para mandar ou para ser mandado, para abrir caminho ou para seguir os outros; e para isso é determinante tratar-se do «Nuno Nunes», constituir o último elo, visivelmente marcado e facilmente identificado, de uma cadeia de castas superiores ou inferiores.
Na simbiose da sociedade rígida e fechada, a ninguém é, no fundo, consentida a autoria do papel que a sua existência total representa – e não admira que as mais gratificantes formas de auto-realização e transcendência pessoal tenham que ocorrer, dado o contexto, no reduto da privacidade, na invisibilidade e no silêncio, para lá das remotas fronteiras até às quais se estende a grilheta da alienação.
O anonimato é, nestas ocasiões, a máscara com que assomamos à janela desses redutos. Quando a sociedade vai longe de mais no tributo que nos pede e na marca que nos impõe, ressurge espontaneamente um sentido nobre de anonimato, que é a recusa de uma «regra de jogo» que sabemos viciada. Uma recusa que se converte num acto de libertação privada.
Essas sociedades policiam, não raro ferozmente, a criação e a perpetuação desses papéis e estatutos – e só não o fazem mais porque contam com a interiorização espontânea dos valores que representam, o auto-policiamento por parte daqueles que vêm em tudo isso uma fatalidade, um sentido, um interesse até.
Mais ainda, essas sociedades não toleram surpresas no jogo, e por isso reclamam de cada um o aval do seu pedigree, para saberem quem privilegiar e quem humilhar e excluir, independentemente daquilo que as pessoas façam. Todos nascemos com a herança dessa marca, e muitos com esse estigma.
Por isso essas sociedades desconfiam do anonimato.
Não importa se o «Nuno» tem nobreza de carácter, se tem talento, se tem ambições: interessa é saber se nasceu para servir ou para ser servido, para mandar ou para ser mandado, para abrir caminho ou para seguir os outros; e para isso é determinante tratar-se do «Nuno Nunes», constituir o último elo, visivelmente marcado e facilmente identificado, de uma cadeia de castas superiores ou inferiores.
Na simbiose da sociedade rígida e fechada, a ninguém é, no fundo, consentida a autoria do papel que a sua existência total representa – e não admira que as mais gratificantes formas de auto-realização e transcendência pessoal tenham que ocorrer, dado o contexto, no reduto da privacidade, na invisibilidade e no silêncio, para lá das remotas fronteiras até às quais se estende a grilheta da alienação.
O anonimato é, nestas ocasiões, a máscara com que assomamos à janela desses redutos. Quando a sociedade vai longe de mais no tributo que nos pede e na marca que nos impõe, ressurge espontaneamente um sentido nobre de anonimato, que é a recusa de uma «regra de jogo» que sabemos viciada. Uma recusa que se converte num acto de libertação privada.
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