Alguns amigos surpreendem-se com o meu apego ao cultivo daquilo que se passou na alvorada da minha existência. Há certamente muitas explicações para isso, a maior parte freudianas. As minhas preferidas são, obviamente, as proustianas, temperadas pela visão mítica do eterno retorno (por um lado, tornamos em paraíso aquilo que perdemos; por outro lado, a linearidade do tempo torna a decadência insuportável).
Para os amigos tenho ainda uma explicação matemática. Cada novo ano é uma unidade no numerador, e cada ano se soma aos anteriores no denominador: o ano em que completamos vinte anos vale um vigésimo do nosso primeiro ano de existência; o ano em que completamos quarenta vale um quadragésimo. É por isso que os anos pareciam tão longos na minha infância. É por isso que dou tanta importância a esses primeiros anos, agora que estou na fase tão desvalorizada da passagem do tempo.
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