O povo adora, e ele sabe-o finalmente: séculos de monarquia predispuseram a plebe a venerar particularmente as demonstrações de poder que consistem na transgressão, pelos poderosos, das mesmas regras que eles promulgam para servirem de canga ao súbdito pé-rapado.
É proibido fumar, mas o soberano fuma; é proibido matar, mas o soberano manda enforcar; o adultério é proscrito, mas o soberano ostenta publicamente o seu harém de favoritas; a contrafacção é reprimida, mas o soberano manda quebrar a moeda.
Chamar-lhe-ia o código do «macho-alfa», se não fosse haver já expressões consagradas para esta prática: «Quod principi placuit legis habet vigorem» (o que agrada ao soberano tem força de lei) e «Princeps a legibus solutus» (o soberano [que está] isento do acatamento da lei).
Foram princípios que serviram durante séculos para alicerçar o «carisma» da monarquia (mais tecnicamente, o «pactum subjectionis» ao «Leviatão»). Surpreende que o eng. Sócrates tenha demorado tanto tempo a percebê-lo e a utilizá-lo eficientemente.
Mas agora está feito, e com a necessária ostentação. O gesto não será esquecido, e pode bem ter-lhe garantido a perpetuação monárquica no poder.
3 comentários:
Brilhante!
E cristalino como a água.
Refiro-me a si.
Cumpts.
O P-M deve estar deliciado com o branqueamento.
Ab.
E a visita ao amigo Chávez serviu para aprimorar os "skills".
Abr.
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