O novo Ashram minimalista

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Ainda o Ashram vazio

O tempo, que nos rouba tanta coisa, devolve-nos uma pequenina contrapartida, e essa é um misto de consolidação de identidade (uma riqueza de memórias) e de lucidez, de clarividência. Da confluência das duas pode emergir, se formos serenos, uma forma de sabedoria que exteriormente se interpretará como «paciência», mas que vista do interior é «suficiência», ou seja, uma densidade perceptiva que se compraz na acumulação de pequenas evocações e na sondagem dos pequenos desafios. O portão semi-aberto do Ashram significa que esperamos e não esperamos amigos; se eles vierem é bom, mas se eles não vierem libertam-nos também o tempo para pensarmos nos momentos em que eles cá estiveram e para imaginarmos o que serão (e quem serão) quando, e se, regressarem. Sem ansiedades - que tornam opaca a nossa circunstância e nos tolhem o auto-domínio.
Às vezes pergunto-me se estoicismo e epicurismo (e algumas variantes beneditinas) devem ter verdadeiro estatuto de filosofias práticas – ou se não serão antes triviais enunciações de evidências: começando pela de que o vazio é uma oportunidade de preenchimento para aquele que foi ficando.

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