Já dobrei o cabo de mais de metade do calhamaço, e a leitura é fascinante: claro que há muita morbidez escusada, muita passagem positivamente repugnante a diversos níveis – mas o tour de phrase, a fluência narrativa, a limpidez das ideias, a capacidade descritiva, a criação de «atmosferas» (a do kessel em Estalinegrado, com um deslizamento onírico, é impressionante), o próprio manancial de referências eruditas e de âncoras factuais, é tudo inexcedível, um primor. Agora que o romance do século XXI parece cada vez mais refém de experimentalistas grosseiros que se comprazem no aviltamento da linguagem ao sabor dos seus tiques e taras e de merceeiros que debitam prosa «light» por alturas do Natal, a leitura de uma obra destas é um bálsamo, reconcilia-nos com a grande literatura – chegando a haver momentos de algum anacronismo estilístico, que nos remetem para os clássicos do século XIX mais até do que para a grande literatura do século XX.
O novo Ashram minimalista
terça-feira, 15 de abril de 2008
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2 comentários:
É fantástico o livro.
AInda nao o terminei mas ando com ele no metro e leio-o na hora de almoço.
ando com algumas dificuldades em conseguir ler (e, principalmente, assimilar devidamente) aquelas horrorosas descrições de "um trabalho que tinha que ser feito"...
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