O novo Ashram minimalista

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Burp!

Os portugueses (generalização temerária) combatem o tédio com aquilo que Eça designava, com a usual ironia, como «o sentido do grandioso». Como não há incêndios de monta nas igrejas de Lisboa, têm que consolar-se com afirmações azedas e apocalípticas sobre o destino do país e sobre a incompetência dos políticos. Fazem-no como quem arrota por ter comido um pastel de bacalhau a mais; ajeitam-se na poltrona, fazem um leve esgar de alívio e sentem que, por terem falado mal de alguma coisa e terem agoirado a decadência final de tudo o que os rodeia, de certo modo esconjuraram as suas pequenas e molengas misérias burguesas. «São uns patifes», sentenciam, e sentem-se consolados com a solenidade do juízo; a maledicência é uma injecção de adrenalina na sua apatia esclerosada, fá-los sentirem-se grandes, e menos dispépticos, por repetirem para si próprios sermões que ninguém se lembrou de lhes encomendar.

2 comentários:

Manuela Magno disse...

Mas ainda vai havendo quem se queira mexer e até quem não veja televisão nem tenha sofás e, talvez por isso, acabe por embarcar em projectos que pode ver em
www.respublic.pt

M Isabel G disse...

Acho mesmo que os portugueses têm horror ao tédio. Veja a quantidadae de viagens qe fazem, a loucura dos feriados em que se deslocam centenas de quilómetros para três dias fora de casa. A loucura das pontes e o estado em que fica a ponte até ás tantas da noite, geralment notícia de telejornal.
Devem ter imenso dinheiro para andarem sempre fora de casa. E boas mulheres a dias que lhes tratam das casas. :)
E nunca gostam de parecer inferiores ao vizinho, ao colega e aos amigos que chegam sempre bronzeados e com imensas coisas "giras" para contar.
A cidade fica deserta com um feriado.

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