O novo Ashram minimalista

sexta-feira, 7 de março de 2008

O problema dos modernos Salons

Leio nos blogues de Charlotte e de Combustões duas perspectivas sobre o mesmo tema: mas o que é que andamos a fazer aqui?
Subscrevo praticamente tudo o que dizem, em especial quando tratam de cascar num tipo de imbecilidade malcriada que descobriu nos blogues uma voz que de outro modo não teria (lembra-me mapas antigos em que algumas regiões apareciam totalmente desproporcionadas à sua real dimensão). Dir-se-ia ser o preço da liberdade, mas eu acho que é mais efeito da moda, e da indiferenciação que a moda fomenta (de lembrança em lembrança, recordo-me dos alvores do «punk», que vieram dar uma oportunidade, fugaz embora, a toda a gente que não tinha qualquer talento musical).
Insisto que o meio deveria ter evoluído, e às vezes fico boquiaberto perante as possibilidades exploradas por alguns vanguardistas, como o F_World. Se eu pudesse refazer o Ashram, refazia-o de acordo com esse novo paradigma, mas lamento que para lá se chegar ainda não haja tecnologia «user-friendly», ao alcance de um novato como eu.
Concordo também que, com as suas limitações, o meio tem permitido aprender muita coisa interessante e descobrir o lado bom da sociedade que se cultiva e evolui sem subordinar todos os seus valores ao cálculo mercenário de vantagens, e que é capaz, por actos e não por palavras, de praticar um verdadeira «ética de partilha», um reflexo da distante «république des lettres», nos tempos em que os «beaux esprits» podiam beneficiar de mais factores centrípetos. É verdade que isso se tem que fazer nos interstícios da estridência exibicionista, mas não é assim em tudo na vida?
Só não remataria com a rispidez de Combustões: o convívio é uma coisa boa, e noutra altura da minha existência eu teria convivido em todos os «encontros ajantarados» que aparecessem. Claro que, como outrora disse, o faria aos saltinhos e debicando as plumas e com todos os trejeitos e coreografias pré-nupciais de uma ave do paraíso – porque nessa «alteridade visual» o que comanda é o nosso narcisismo, e o que comanda o nosso narcisismo é o «gene egoísta» que precisa da proximidade dos outros para melhor os explorar. Assim, por necessidade, faço-me de solipsista, e no fundo tenho pena de não poder, ao vivo, despoletar a indignação irónica e as gargalhadas de pessoas que aprendi a estimar desta forma tão peculiar – tenho pena de não poder sujeitá-las ao teste de facetas de personalidade que «não passam» neste meio limitado sem parecer de imediato muito forçadas e postiças (por exemplo: será que há repentistas entre nós? como vamos de «verve»?, etc.)
Nada a lamentar, contudo. No geral, ainda dá para frequentar uns «Salons» bem chiques.


5 comentários:

Maria do Céu Barros disse...

O F-World não tem nada de complicado. Muito semelhante ao trabalho de Susan Hiller que em 1996 fez um trabalho idêntico simplicíssimo.
http://www.diacenter.org/hiller/

Inscape disse...

O trabalho de Susan Hiller foi todo feito em flash que não é um programa simplicíssimo. Sou outro inscape, igualmente anónimo numa coincidência simplicíssima.

Maria do Céu Barros disse...

Para o outro Inscape,

O trabalho original (1996) foi feito em HTML. Ela passou para o flash mais tarde :)

Jansenista disse...

O F_World é fantástico, e ao passar por lá sinto que estou a ver o que podem ser os blogues do futuro: obras de arte, e, como arranjos florais, magníficos na sua beleza efémera.
Prefiro nem saber como é feito, para não quebrar o encanto.

Maria do Céu Barros disse...

Ora essa Fátima, não há desordem nenhuma, apenas opiniões divergentes e uma coincidência inocente de nicks (actualizei o meu perfil para facilitar). Como deve saber já em 1996 existiam programas muito user-friendly que permitiam, apesar das suas limitações, fazer trabalhos fascinantes sem necessidade de teclar uma única linha de html, embora o resultado final fosse de facto html. Tal é o caso da Susan Hiller que nesse trabalho usa apenas a cor de fundo e o som. Falei nele exactamente para mostrar a sua simplicidade técnica, muito mais evidente do que no F_World.
Admito no entanto que, talvez por deformação profissional, eu veja o fácil onde outros vêm o difícil. Para mim a dificuldade do F_World é possuir a criatividade, e não a técnica, para o fazer. É na sua criatividade que está a sua beleza.


Jansenista
Embora saber como as coisas são feitas não lhes retire o encanto, concordo que por vezes é melhor deixar as coisas como estão. Da minha parte deixo este mini debate ficar como está.

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