Passei há momentos diante do Cantinho da Paz e lembrei-me do meu último jantar ali, com um fantasma – um amigo que fez questão de despedir-se de mim ali, poucos dias antes de morrer, a voz trémula, macilento, o olhar do condenado. Às vezes, para me torturar a mim mesmo, sinto que vou reconstituir a conversa que tive com ele, mas desvio sempre no último momento o meu pensamento para coisas menos doridas. Hoje lembrei-me do bafo quente da noite de verão feitas as despedidas, e de como, com outro dos convivas, pronunciámos breves frases a confirmar mutuamente o nosso horror, e de como subimos penosamente em silêncio a Calçada da Estrela. Hoje subi de carro e no leitor de CDs ia a passar este blues – um monumento de simplicidade e de espontaneidade; deixo-o aqui a resgatar uma segunda vez a minha tristeza.
O novo Ashram minimalista
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
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1 comentário:
E assim recordo o último almoço com o meu pai.
Em circunstâncias semelhantes, embora, à data, não o soubessemos tão concretamente. Suspeitávamos, apenas. Havia, ainda, esperança. Mas o destino, ou lá o que é...
Não há melodia que nos resgate dessas tristezas, sabe?
A música é o caminho das lágrimas. Visíveis ou não.
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