O novo Ashram minimalista

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

A uma outra observação de Charlotte: as moscas-mortas

A pose da «mosca-morta» é uma invenção de mulheres para controlarem mulheres, é um artifício anti-competitivo entre mulheres, com a cumplicidade de alguns homens: os habituais candidatos a chifrudos, e os sexualmente inseguros.
Qualquer homem minimamente seguro e experimentado lhe dirá que o nariz empinado costuma ser irresistível, e que a «paz e sossego» de «cadáveres adiados que procriam» é a aridez a ser evitada a qualquer preço.
O género «apimentada» é sempre preferível ao género «rangée», por muito que isso custe ao batalhão de mulheres que não têm a arte para saírem da sua mediania, e que julgam poder resolver o problema coligando-se numa moral niveladora e esterilizadora.
Mas, na minha opinião, isso nada tem a ver com sobriedade. Por isso é que o nariz empinado exige talento, para não resvalar na mais pedestre má educação, no palavrão, na agressividade frustrada (o que por aí anda na blogosfera, para não irmos mais longe!). Com talento, a «insolência» (em sentido etimológico, entendamo-nos, o «desvio à norma») pode ser um delicioso exercício de graciosidade e de independência – a tal irresistível demonstração de personalidade: não «rangée», mas «soignée».

3 comentários:

O Réprobo disse...

Sem falar no facto de, com poucas variações, quando uma "mosca morta" é detectada como rival minimamente perigosa por outro Animal do Género, passar a Songa-monga.
Com esta me vou.
Tenha uma Noite muito feliz, Caro Jans

ana v. disse...

Completamente de acordo. «Cadáveres adiados que procriam» é um rótulo duro, mas um género medieval muito cultivado cá pelo burgo. Tão pernicioso como esse, ou mais ainda, só o oposto: as mulheres que se julgam acima de todos os mortais, as inimputáveis que varrem tudo a rajadas de metralhadora e não aceitam depois uma crítica. Também há muito disso, infelizmente. Mas sejamos justos: neste 2º género não há só mulheres, há muitos homens também. Os gurus da moda, que os papalvos seguem religiosamente e não questionam nunca. A blogosfera é um excelente exemplo disso.

Boas Festas
Ana

Isabel Metello disse...

Concordo plenamente- neste país maioritariamente beige, pleno de lows profiles discretíssimos e exangues, avessos à vitalidade, qualquer existência feminina mais afirmativa e colorida se revela um alvo apetecível da língua venenosa de gente que só sabe enunciar, em uníssono, paradigmas banais, de senso comum e auto-discriminatórios.
Cá, normalmente, oscila-se entre dois extremos: ou a vulgaridade aberrante ou a discrição quase invisível. É um flagelo- mulheres que se dizem emancipadas, partem a loiça toda na adolescência ou após o divórcio, mas, depois ou durante o casório, encaram a aliança como uma coleira, e lá seguem elas os passos das progenitoras delas e das das suas caras-metade, para quem uma “boa” mulher é alguém que cuida da sua cria com um instinto maternal arrepiante, quase tétrico! Fujam das mulheres que chamam filhos aos cônjuges e vice-versa! Que tendência para hábitos incestuosos, credo! Já viram alguma anglo-saxónica chamar filho ao marido?
Para além do mais, um casal não deveria deter uma personalidade colectiva! Um casal é a junção de duas individualidades distintas que escolhem prosseguir juntos na via da vida, mas sem se anularem mútua ou unilateralmente!
São raras as portuguesas que conheço que não cheguem aos 30 mais parecidas com as mães do que com os seus sonhos de juventude e isto, geralmente, salvo raras e digníssimas excepções, não é um elogio! Mas, também, diga-se a bem da verdade, a pressão social que sofrem para chegar a esse grau zero da individuação é forte!
Educação nada tem a ver com anulação, pelo contrário, tem a ver com assertividade modelada por um claro respeito do indivíduo por si próprio e pelos outros.
Quanto à vulgaridade, de facto, é, hoje, clara a tendência para se confundir humor e ironia com má educação, actualizada em obscenidades de vão de escada! Confunde-se, igualmente, personalidade com arrogância, vocábulos que não são de todo sinónimos! Desconfio sempre de pessoas que se levam demasiado a sério!
Assim, oscilamos, tendencialmente, entre as moscas-mortas e as varejeiras, o que é sempre muito incomodativo!
Um abraço e a continuação de Boas Festas,

Isabel Metello (http://vacagalobarcelos.blogspot.com/;http://lavailama.blogspot.com/
http://briefnewworld.blogspot.com/)

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