Sentei-me diante da TV para assistir ao Prós e Contras, vencendo a minha natural repugnância pelo formato e pelo estilo boçal e saliente da apresentadora. Ainda ouvi algumas subtilezas desperdiçadas de Jaime Nogueira Pinto (pérolas a porcos) e uma bravata desmiolada de um Frelimo, e antes do intervalo ouvi uma intervenção desassombrada de um patriota da velha escola, que apontava no sentido de um debate sério. Mais seis horas, pelo menos, daquilo, e talvez alguém perguntasse porque é que as populações jamais foram consultadas, ou porque é que o interesse local era o de que fosse instaurado o marxismo-leninismo, ou se o que se pretendia era a guerra civil.
Depois caí em mim. Um debate sério agora? A esta distância? Com os factos consumadissimos, as memórias todas reformatadas e as histórias todas deturpadas?
Depois caí em mim. Um debate sério agora? A esta distância? Com os factos consumadissimos, as memórias todas reformatadas e as histórias todas deturpadas?
Não, seria masoquismo: mesmo as poucas vozes discordantes numa maré de falsidades e de mitos não vão senão ajudar a banalizar o assunto, e no fim contribuirão, volente nolente, para dourar a pílula desta historiografia pós-moderna feita «por consensos». De resto, nunca essa ou outra historiografia fará justiça ao que aconteceu, tal a deturpação cumulativa da percepção colectiva que ocorreu já no espaço de três décadas. Se é para isto, mais vale desmemoriar de vez, apagar tudo e seguir em frente. Já não vi a segunda parte, fui dormir.
2 comentários:
Curiosa ideia essa, a de que a deturpação das histórias, a reformatação das memórias, os factos consumadissimos, impedem a análise crítica da História.
Nem sei onde já ouvi isso, mas se impedem, então realmente o melhor é continuar a dormir. Bons sonhos...
Nada como um trio de revisionistas neo-nazis para nos darem umas lições de historiografia. Por quem Deus nos manda ensinar!
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