
Tenho tido algumas das minhas refeições mais calmas (excluindo as domésticas, é claro) no João do Grão, e por lá têm decorrido algumas das conversas mais descontraídas, alegres e instrutivas. Talvez se houvesse ainda o velho Martinho, ou o Suisso, ou o Gelo, talvez se o Nicola não tivesse arvorado aquele ar cosmopolita – talvez eu tivesse menos apego por esse último reduto galego na Baixa. Mas enquanto a refeição decorre acomete-me às vezes a ansiedade de pensar que um dia aquilo fecha, e percorro com o olhar alguns recantos que eu lembrava mais escuros e compartimentados da minha mais recôndita meninice (detestei as poucas vezes que lá terei ido, associava aquilo a uma espécie de carvoeira fétida e repleta de gente feia e suja, e só de castigo é que, sustendo a respiração e contendo a náusea, conseguia comer uma ou duas lasquinhas de bacalhau).
Como eu mudei! E como o sítio mudou – mudando tão pouco! (Às vezes tenho a esperança de que o mesmo tenha sucedido comigo). Lembrei-me do João do Grão lendo a justíssima reportagem no suplemento do SOL, e não deixei de experimentar o sentimento agridoce que, para mim, têm todas as evocações de uma Lisboa de pregões e cheiros e tascas que, vertiginosamente, quase desapareceu em duas ou três décadas.
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