Este ano atrasou-se um mês, com leves ameaços de permeio, mas aí está ele, o Maelstrom do pólen, submergindo milhões de vítimas aflitas, e entre elas eu. Toma-se os anti-histamínicos mas qual quê, o tormento continua, a gente chora, arfa, prostra-se, incha, desincha, chora, baba-se, funga, refunga, tudo arde, a garganta seca e os olhos marejados. Os mesmos passos custam o dobro, invejamos as pessoas que resistem, e as flores, que daqui a semanas voltarão a ser belas e inocentes, parecem armadilhas sinistras. Os lenços ensopam, a camisa cola ao corpo, um duche frio dá umas tréguas mas tudo regressa, teme-se a noite, a respiração difícil, os calafrios do pólen nocturno, o lento afogamento, a insónia cruelmente contraditada pelo sono irreprimível dos anti-histamínicos.
Voltamos a ser bichos, que é o que somos a cada momento, embora a natureza tenha a misericórdia de não no-lo lembrar constantemente. Bichos feridos (vulnerados e não já vulneráveis), dependentes, frágeis, entorpecidos, menos ágeis e vigilantes. Uns grunhidos anasalados sob o nariz entupido, e temos que beber o cálice até ao fim.
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