Quando o desconcerto do Mundo me fere mais gravemente e me apetece fugir, lembro-me de uma velha dualidade que emergiu na China, seis séculos a.C., a dualidade entre Confucionismo e Taoismo – porque ela me parece resumir as vias alternativas para a nossa consumação como boas pessoas.
Confúcio privilegiou a observância de deveres sociais, Lao-Tsé a fuga a esses deveres. Um quis projectar na natureza humana o florescimento da sociabilidade, da razão, da articulação, da intersubjectividade, dos costumes; o outro contentou-se com a moralidade que pode emergir da sondagem interior, que pode ressoar da renúncia e do silenciamento, e diz-se que foi um guarda que, surpreendendo-o na fuga, lhe rogou que deixasse em legado o manifesto que é o Tao te Ching.
Retirar, não prosseguir, contemplar, não criar, desaprender a esperteza superficial e ornamental com a qual nos inebriamos no baile de máscaras; não depender, não competir. Abandonar as pressões mutiladoras das tempestades sociais, das convenções, dos interesses, buscando imitar a água que busca sempre os lugares inferiores e as profundezas inóspitas, e no entanto beneficia todas as coisas sem competir com elas – vencendo pela erosão, com a sua suavidade e doçura, todos os ângulos e asperezas das rochas, todas as crispações.
E silenciar, abreviar, usar de contenção na busca dos outros, porque nenhuma tempestade, nenhuma estridência, nenhuma desarmonia pode durar eternamente – nenhuma pode adulterar irremediavelmente a autenticidade do casulo onde habita a consciência moral.
Confúcio privilegiou a observância de deveres sociais, Lao-Tsé a fuga a esses deveres. Um quis projectar na natureza humana o florescimento da sociabilidade, da razão, da articulação, da intersubjectividade, dos costumes; o outro contentou-se com a moralidade que pode emergir da sondagem interior, que pode ressoar da renúncia e do silenciamento, e diz-se que foi um guarda que, surpreendendo-o na fuga, lhe rogou que deixasse em legado o manifesto que é o Tao te Ching.
Retirar, não prosseguir, contemplar, não criar, desaprender a esperteza superficial e ornamental com a qual nos inebriamos no baile de máscaras; não depender, não competir. Abandonar as pressões mutiladoras das tempestades sociais, das convenções, dos interesses, buscando imitar a água que busca sempre os lugares inferiores e as profundezas inóspitas, e no entanto beneficia todas as coisas sem competir com elas – vencendo pela erosão, com a sua suavidade e doçura, todos os ângulos e asperezas das rochas, todas as crispações.
E silenciar, abreviar, usar de contenção na busca dos outros, porque nenhuma tempestade, nenhuma estridência, nenhuma desarmonia pode durar eternamente – nenhuma pode adulterar irremediavelmente a autenticidade do casulo onde habita a consciência moral.
Diante do desconcerto do mundo apetece-me reconhecer em mim a maior das riquezas taoístas – a consciência de que tenho o suficiente, a consciência de que posso partir, de que, por uma vez, sem me ocupar dos outros, posso fazer o que verdadeiramente me apetece.
2 comentários:
Se os rios e os mares reinam sobre todos os riachos, é porque ambos sabem manter-se em níveis inferiores. Por isso reinam sobre todos os riachos.
Assim, também o Sábio:
Se quer elevar-se acima do seu povo, coloca-se abaixo dele quando lhe fala.
Se quer estar à frente de sua gente, coloca-se atrás.
Portanto:
Permanece no alto e o povo não sente o seu peso.
Mantém-se na liderança e o povo não é ferido por ele.
Assim, também, todo o mundo é solícito em exaltá-lo, sem ficar de mau humor.
Como ele não briga, ninguém no mundo pode brigar com ele.
"Do Livro: A Vida, de Lao-Tsu, LXVI"
Aproveitei o mote (Tao-te Ching) para trazer algo que define um tipo raro de líder no nosso país.
Caro Jansenista
Os desconcertos da vida existem ( ou talvez não...). Mas a nossa atitude deve ser de uma apreciação "objectiva" e desapaixonada.
O essencial é conservar a serenidade.
Os problemas, as injustiças devem levar-nos a tomar atitudes face a elas: tentar sempre melhorar as coisas, intervir de modo a que os valores em que acreditamos ( e os valores morais e de justiça são practicamente consensuais) prevaleçam ( Confúcio ).
Mas se não o conseguirmos ou até se acharmos que a empresa é demasiada para as forças que temos no momento, também tudo bem (Lao-Tsé): provavelmente a "realidade" tal como a percebemos não passa de uma ilusão e o alheamento seja a atitude correcta!
Entre duas visões tão antagónicas do sentido da vida, mas qualquer delas tão coerente ( e tão impossível de ser demonstrada) a minha via será sempre a da conciliação das duas visões: a chamada Via do Meio.
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