Com o passar dos anos vamos concentrando esforços na selecção de «momentos de qualidade», aquelas interrupções heróicas na rotina que nos autorizam a termos consciência do que somos, do que nos tornámos ou do que estamos a fazer. Quanto mais implacável é o «emprego do tempo» mais lutamos e melhor nos sabe a transgressão «qualitativa».
Em casos extremos, são aquelas breves epifanias contra as quais investimos, no vento matinal, nos breves passos que damos entre o estacionamento e o edifício, aquela frase que ruminamos apressadamente num corredor e nos provoca um sorriso imbecil e solitário à porta do gabinete.
Em casos privilegiados é o fim de tarde com as pessoas que amamos e longe do trabalho, o deambular cúmplice entre passeios e canteiros enquanto o trânsito se complica e algumas almas azedas perdem o tempo a discutir as taras do patrão ou as trafulhices do político.
Às vezes pergunto-me se ser privilegiado não é somente isto, ir resgatando da voragem do tempo pequenos momentos, muito luminosos e alinhados na memória, nos quais idealizo que um «eu» mais autêntico se exprimiu – uma colecção privada de triunfos contra o medo da alienação e da irrelevância, de remates positivos num diálogo interior.
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Lembro-me de uma anedota que dizia que o segredo da longevidade é casarmos com alguém muito chato: não se vive mais tempo, apenas parece mais tempo.
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Anedota à parte, eu sei que no fim é o tempo que ganha, mas creio também (sem hipostasiações sofisticadas) que no fim esse triunfo nada significa e nada inutiliza.
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Como uma folha caída à deriva pelas margens de um rio, apego-me às pequenas enseadas, aos ramos, às pedras que vão retardando o fim do curso.
Em casos extremos, são aquelas breves epifanias contra as quais investimos, no vento matinal, nos breves passos que damos entre o estacionamento e o edifício, aquela frase que ruminamos apressadamente num corredor e nos provoca um sorriso imbecil e solitário à porta do gabinete.
Em casos privilegiados é o fim de tarde com as pessoas que amamos e longe do trabalho, o deambular cúmplice entre passeios e canteiros enquanto o trânsito se complica e algumas almas azedas perdem o tempo a discutir as taras do patrão ou as trafulhices do político.
Às vezes pergunto-me se ser privilegiado não é somente isto, ir resgatando da voragem do tempo pequenos momentos, muito luminosos e alinhados na memória, nos quais idealizo que um «eu» mais autêntico se exprimiu – uma colecção privada de triunfos contra o medo da alienação e da irrelevância, de remates positivos num diálogo interior.
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Lembro-me de uma anedota que dizia que o segredo da longevidade é casarmos com alguém muito chato: não se vive mais tempo, apenas parece mais tempo.
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Anedota à parte, eu sei que no fim é o tempo que ganha, mas creio também (sem hipostasiações sofisticadas) que no fim esse triunfo nada significa e nada inutiliza.
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Como uma folha caída à deriva pelas margens de um rio, apego-me às pequenas enseadas, aos ramos, às pedras que vão retardando o fim do curso.
É isso, os momentos de qualidade são aquelas ilusõezinhas de eternidade que partilhamos com quem amamos, aqueles instantes em que parece que a liderança de nós próprios nos foi misteriosamente devolvida, em que parece que fomos resgatados da torrente do grande rio.
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