Mudei de médico. Recepção algo fria, defensiva, apesar da cara de boa pessoa e do sorriso espontâneo. Falamos disto, daquilo, e eu começo a enumerar os colegas de curso dele que conheço. Duas ou três gargalhadas de surpresa e de saudade indisfarçada. Fica mais enigmático quando falo dos chefes dele, e quando lhe explico a razão fica de repente muito intimidado e venerador. Tento quebrar o gelo com duas ou três graçolas, em vão. Milagre: de repente descobrimos que andámos no mesmo liceu, ele poucos anos à minha frente: a fisionomia altera-se por completo, e na mais completa cumplicidade passamos em revista velhas glórias, tradições e pitorescos. O telefone começa a tocar e ele, embaraçado, lá vai dizendo "eu sei, eu sei, é só mais uns minutos"; desliga e continuamos. Ao fim de já não sei quanto tempo e de vários telefonemas da recepção lá interrompe a charla, sugerindo que é altura de auscultar-me e medir-me a tensão. Enquanto vai preenchendo papelada lá vai evocando mais episódios cómicos e rindo, rindo. Só não nos despedimos aos abraços porque não calhou. Acompanha-me até à sala de espera, talvez com o intuito de proteger-me dos olhares de ódio dos demais pacientes: há mais de uma dúzia à espera. No elevador olho para o relógio, a consulta durou mais de duas horas e meia. Fico com pena de quem estava à espera, mas eu nem senti o tempo passar. Que luxo de médico!
O novo Ashram minimalista
quinta-feira, 7 de junho de 2007
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